O rato-toupeira-pelado, um roedor subterrâneo nativo do Leste da África, pode viver até 30 anos, quase nove vezes mais que ratos do mesmo tamanho. Com dois grandes dentes amarelos saindo de um corpo pálido, sem pêlos, o mamífero pode não ser muito agradável aos olhos, mas tem uma atraente adaptação relativa à longevidade que conquistou pesquisadores nos últimos anos: ele parece ser imune ao câncer.
A Revista Scienceescolheu o animal como seu Vertebrado do Ano de 2013 para celebrar dois estudos pioneiros do ano passado que ajudaram a explicar a resistência do animal ao câncer.
Revelando mistérios do rato-toupeira
O primeiro estudo, publicado em junho na Naturepor uma equipe de pesquisadores da University of Rochester, no estado de Nova York, descreveu uma substância chamada de ácido hialurônico que os roedores acumulam entre seus tecidos em uma forma molecular mais pesada que a encontrada em humanos e ratos (Scientific American é parte do Nature Publishing Group). Acredita-se que a forma mais pesada da substância ajude a tornar a pele do rato mais elástica. Isso é particularmente útil para animais que passam seus dias se arrastando por estreitos túneis subterrâneos. Os pesquisadores também descobriram que quando removiam a pesada substância dos tecidos dos roedores, os animais também perdiam sua resistência a tumores.
Essas descobertas sugerem que essa forma específica de ácido hialurônico tem um papel importante na resistência ao câncer, ainda que sua função exata ainda não foi esclarecida.
O segundo estudo, publicado em outubro no periódico Proceedings of the National Academy of Sciencespor alguns dos mesmos membros do grupo de pesquisa da University of Rochester, mostrou que o rato-toupeira é capaz de produzir proteínas – por meio de processo celular chamado de transcrição proteica – com muito poucos erros, se comparado a ratos. Os pesquisadores acreditam que essa precisão na transcrição pode ajudar os animais a viverem mais que ratos e outros roedores.
Em um vídeo produzido pela University of Rochester em comemoração ao anúncio do prêmio, membros da equipe declararam que planejam introduzir o mecanismo de transcrição proteica do rato-toupeira-pelado em ratos para ver se isso ajuda os animais a viverem mais e a desenvolverem resistência ao câncer.
Os pesquisadores esperam que esses estudos acabem ajudando a identificar novos tratamentos para o câncer em humanos.
“Essa será uma prova de princípio de que os mecanismos que descobrimos no rato-toupeira-pelado podem ser transferidos para uma espécie diferente, e que podem acabar beneficiando seres humanos”, especula a coautora do estudo, Vera Gorbunova.
‘Beleza Interior’
Ainda que a aparência dos roedores sem pêlos possa evocar caretas de nojo em pessoas não acostumadas a trabalhar com eles todos os dias, os pesquisadores envolvidos nesses estudos desenvolveram grande admiração e os consideram criaturas bem bonitas.
“Algumas pessoas acham que esses animais são feios, mas quando você os vê se mexendo, você pode dizer que eles são bem fofos e que há beleza interior nesses animais”, observa Gorbunova.
A Revista Scienceanunciou vários outros prêmios de Desenvolvimentos Notáveis em seu volume de 20 de dezembro, incluindo Invertebrado do Ano, que foi para insetos do gênero Issus. Pesquisadores descobriram que esses insetos usam engrenagens em suas pernas para se impulsionarem durante um salto.
Fonte: Scientific American Brasil
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