terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Perto do Fim

Os anfíbios já estão ameaçados pela perda de seu hábitat, pela poluição e pelas mudanças no clima. Um fungo exótico pode desfechar o golpe fatal nesses animais. Pesquisas e esforços de resgate talvez sejam a salvação para as espécies prestes a extinção.


Longe da civilização, os espécimes de Rana mucosa que vivem nos trechos mais elevados da serra Nevada, na Califórnia, estão morrendo. O culpado é o fungo quitrídia, que surgiu na região em 2004, e já dizimou dezenas de milhares de animais.


Os anfíbios estão entre os grupos mais atingidos pelas inúmeras pressões que hoje recaem sobre a fauna selvagem. Nada menos do que metade de todas as espécies está ameaçada. Centenas estão a beira da extinção, e dezenas foram aniquiladas. Mas esforços de resgate vão resguardar alguns animais até que passe a onda da extinção. E, pelo menos em laboratório, os cientistas já conseguiram curar rãs de uma doença fúngica.




A quitrídia começou a dizimar os anfíbios da Costa Rica nos anos 1980, embora ninguém tenha se dado conta na época. Foi somente em meados da década seguinte, quando as rãs passaram a morrer em grande número na Austrália e na América Central, que os cientistas descobriram que o fungo era o responsável.


Nos Andes equatorianos, cientistas fazem teste em uma rã Atelopus para confirmar a presença do fungo quitrídia (resultado: positivo). O córrego em que a rã se reproduzia foi soterrado por entulho de uma rodovia. Desmatamento, aridez e infecções formam um coquetel fatal para os anfíbios no hemisfério Sul.





Ele ataca a queratina, proteína crucial na estrutura da pele e de partes da boca do animal, talvez impedindo a troca de oxigênio e o controle de água e sais no organismo. É bem possível que a disseminação do fungo tenha se dado por intermédio das rãs-albinas-africanas, exportadas para uso em testes de gravidez na década de 1930.


A presença da quitrídia foi confirmada em todos os continentes onde existem rãs (a exceção da Antártida) e em nada menos do que 43 países. O fungo sobrevive em todas as regiões, desde o nível do mar até 6 mil metros de altitude, e mata animais aquáticos, terrestres e anfíbios. Pode disseminar-se tanto a partir da perna de uma rã como das penas de uma ave ou das botas enlameadas de um ser humano. Já provocou o desaparecimento de pelo menos 200 espécies. Em condições naturais, não se encontram mais sapo-dourado da Costa Rica (Bufo periglenes), a rã-dourada panamenha (Atelopus zeteki) e o Bufo baxteri, entre outros.


Um fim trágico para animais tão belos e de uma importância fundamental e essencial para os ecossistemas. Mas os cientistas estão travando essa batalha e são esperançosos contra essa ameaça eminente.


Reportagem adaptada da Revista National Geographic, Abril de 2009. 

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