sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Fitoterapia Antiveneno

Longo foi o caminho na busca de um antídoto seguro contra os venenos animais, em especial aqueles de natureza ofídica. No nosso meio o uso dos antivenenos (os soros) está vinculado à existência de serviços formais de saúde, e o seu emprego permanece restrito às regiões de maior desenvolvimento socioeconômico, onde existem sistemas de atenção médica estruturados. Assim, as populações de localidades remotas se vêem compelidas a buscar alternativas terapêuticas para esse tipo de agravo, geralmente no campo da fitoterapia.




Inúmeros são os vegetais aos quais se atribuem atividade antiveneno, mas estudos bem conduzidos que fundamentem essas indicações são extremamente raros na literatura. De modo geral (excetuando-se raras experiências) a fitoterapia antiveneno no nosso meio está baseada em dados anedóticos, havendo necessidade de uma avaliação crítica de sua real eficácia. A OMS, em um documento datado de 1981, assim se posiciona sobre os tratamentos ditos alternativos, ou não convencionais.


No Brasil, são relativamente escassas publicações técnicas e atuais sobre o tema, mas algumas plantas gozam de reputação antiveneno.

Abaixo algumas plantas utilizadas contra a ação de venenos:

Aristolochia

Hoehne (1925) relata o fato de esta planta ter sido cultivada no Horto do Instituto Butantan a partir do final da década de 1910, com vistas a se estudar seus decantados efeitos no ofidismo. Os dados atualmente disponível na literatura brasileira sobre a utilização terapêutica desse vegetal são inconclusivos. Otero-Patiño, um cientista, testou duas variedades de Aristolochia colombianas, verificaram a ausência de poder neutralizante da atividade letal de seus derivados, ante o veneno de Bothrops atrox (Jararaca). Outro cientista refere-se que o extrato de uma variedade asiática de Aristolochiasp mostrou poder neutralizante contra venenos de crotalídeos, sendo inativa ante venenos elapídicos, em estudos experimentais desenvolvidos em Taiwan.





Curcuma

Referem a atividades neutralizantes contra a atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca (Jararaca) e ação letal do veneno de Crotalus durissus terrificus (Cascavel-de-quatro-ventas).


Peldoton

A planta Peldoton radicans está amplamente distribuída no território brasileiro, sobre ela informa o Dicionário das Plantas Úteis do Brasil: "Plantas ruderal ou de terrenos mais ou menos úmidos da zona equatorial brasileira, nos Estados de Goiás, Piauí e quase todo o Brasil..."

Com reputação de ter atividade antiofídica a paracari de outra planta, é de uso bastante difundido na região amazônica. Outros cientistas, da mesma região, reconheceram no citado vegetal outras atividades terapêuticas. Recentemente estudos experimentais, in vivo, confirmaram a atividade ceutralizante do paracari contra frações do veneno de Bothrops atrox (Jararaca-do-norte).


Peschiera

Popularmente conhecida como leiteiro, a Peschiera fuchsiaefolia é planta nativa do interior de São Paulo e estudos experiementais in vivo revelaram atividade neutralizante contra o veneno de Crotalus durissis terrificus, a cascavel.


Entre os fitoterápicos atualmente disponíveis no comércio, em que pese a falta de embasamento técnico para sua utilização, abaixo os mais utilizados:

Específico Pessoa

Provavelmente o mais produzido no Brasil, obtido de uma mistura de tinturas vegetais, sua ação antiveneno é devida, segundo os produtores, à presença do extrato de um tubérculo, chamado cabeça-de-negro ou raiz-da-cobra que contém a cabinegrina como princípio ativo.















Pau-X Medicamento Preventivo

Produzido no interior do País, não há indicação de composição na embalagem, sendo indicado "contra venenos de cobras e de insetos venenosos", segundo o rótulo do produto. Desconhecem-se estudos controlados do produto.

Específico Composto P. Esser

Não há estudos conhecidos sobre a eficácia desse produto, fabricado sem Santa Catarina; apresenta-se sob forma de tintura composta de três extratos vegetais: jaborandi, pipi, caçau. Na bula que acompanha o produto, no item "Indicações", se lê: "Nas picadas de cobras venenosas, escorpiões, aranhas, taturanas e insetos, age como anti-inflamatório."


Kutelak

Comercializado no litoral norte do Estado de São Paulo, é uma tintura vegetal que tem por base a Bauhia sp, da popularmente conhecida pata-de-vaca. Inexistem informações técnicas sobre eventuais efeitos benéficos no tratamento dos acidentes causados por animais peçonhentos.

Diz um dos folhetos que acompanha o produto: "Picadas de cobras, insetos, escorpiões, aranhas, ect."


Ainda tem muito a descobrir sobre as plantas, pois elas propiciam, muita ajuda ao homem desde os primórdios da nossa civilização.

Fonte: Livro Animais Peçonhentos no Brasil, Biologia, Clínica e Terapêutica dos acidentes. Autores: João Luiz Costa Cardoso, Francisco Oscar de Siqueira França, Fan Hui Wen, Ceila Maria Sant' Ana Malaque e Vidal Haddad Jr. Editora: Sarvier. 2009.

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