A pesquisa de fauna em vida livre pode ser executada sob diferentes metodologias com objetivos variados. Em determinados momentos, em muitos trabalhos de campo, é necessário que alguns ou todos os indivíduos de uma população sejam capturados e manipulados. A obtenção de dados biométricos e amostras biológicas, na maioria das vezes, requer que os animais sofram contenção física ou química. A capacidade da equipe de campo em capturar e manipular animais silvestres, com eficiência e segurança, pode representar o sucesso ou o fracasso de um projeto. Os objetivos da pesquisa e a espécie estudada são alguns dos fatores determinantes na escolha dos métodos empregados na captura e manipulação dos animais.
A marcação dos animais pode ser empregada com diferentes objetivos, como facilitar a observação a distância, conferir um número de registro, evitar ou possibilitar que dados de um mesmo animal sejam obtidos mais de uma vez ou, simplesmente, individualizar os animais em estudo. Assim como o método de captura, o método de marcação deve ser escolhido considerando-se a espécie e os objetivos da pesquisa. Diversos métodos de marcação podem ser utilizados, com códigos alfanuméricos, geométricos ou marcas coloridas. Na maioria das situações, a aplicação de marcas requer contenção.
Sejam quais forem os meios empregados, o sucesso do procedimento de manipulação de animais silvestres em vida livre requer planejamento intenso. Esse planejamento deve considerar principalmente:
1. A espécie que se deseja manipular;
2. A quantidade de indivíduos que serão manipulados durante cada captura;
3. O método de captura que será empregado;
4. Os equipamentos disponíveis para realizar o procedimento;
5. A necessidade ou não do uso de fármacos anestésicos;
6. Quanto tempo será necessário conter os animais capturados;
7. Se há necessidade de translocar o animal do local de captura;
8. A capacidade técnica das pessoas envolvidas;
9. As condições do ambiente onde serão realizadas as capturas, e
10. Quais as eventualidades que podem ocorrer durante a captura, além dos procedimentos que deverão ser tomados caso elas ocorram.
Equipamentos para contenção física
A utilização de equipamentos especiais para contenção física de animais silvestres varia com a idade, o peso e o grupo taxonômico do animal capturado. A seguir alguns equipamentos mais utilizados:
Gancho;
Luvas de raspa de couro;
Puçá;
Rede;
Cambão e corda;
Jaulas e caixas de contenção;
Tubos.
Transporte de animais silvestres
O transporte pode ser necessário em situações como translocações de populações, introdução de indivíduos, translocação de animais-problema e retirada de animais da natureza para o cativeiro. O sistema de transporte de ser planejado com antecedência e ser adequado a espécie que será deslocada. Devem-se sempre considerar as características de resposta ao estresse da espécie e, quando possível, do indivíduo em questão. É muito importante que o projeto tenha licença da autoridade local, além da licença de captura.
Contenção Química
A contenção química consiste na administração de fármacos anestésicos ou tranqüilizantes que possibilitem a manipulação do indivíduo. De maneira genérica, não se busca a anestesia geral, mas, sim, um estado de imobilidade que permita a realização de um procedimento médico ou de manejo mais prolongado, minimizando o estresse do animal e oferecendo segurança para o animal e para a equipe. Em condições de campo, a via preferencial para administração de fármacos anestésicos é intramuscular, devido a maio facilidade de acesso e segurança nos resultados.
As armas mais utilizadas no Brasil são importadas e pertencem às marcas Telinject, Pneu-dart, Paxarms e Cap-Chur.
Quatro questões básicas devem ser respondidas quando se propõe a captura e marcação química de animais em vida livre:
1) Por que anestesiar o animal?
2) Qual a espécie que se pretende capturar?
3) Qual o lugar onde se encontra o animal?
4) Qual o objetivo da contenção?
A primeira questão refere-se a aspectos de ordem ética. O médico veterinário que realizará a contenção química deve, principalmente, compreender e concordar com os motivos do estudo e com a necessidade de manipular os animais. Somente dessa forma poderá determinar a real necessidade de realizá-la e ponderar sobre os riscos e o benefício desse procedimento.
As demais questões são fundamentais na determinação do protocolo mais adequado cujos pontos são:
1) Características básicas de anatomia, do metabolismo e da fisiologia da espécie estudada;
2) Contraindicações e efeitos adversos das drogas que se pretende usar;
3) Tempo necessário para execução de todos os procedimentos necessários ao estudo.
Contudo o manejo, a captura e a marcação desses animais é para o bem deles, para a conservação e para estudos, como controles populacionais e bancos de dados. É importante ressaltar que foi somente um resumo das técnicas, mas o básico foi mostrado. Um mundo sem os animais seria sem vida, então marcar para conservar.
Fonte: Métodos de Estudos em Biologia da Conservação & Manejo da Vida Silvestre. Laury Cullen Jr.; Rudy Rudran; Cláudio Valladares-Padua. Editora UFPR.
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