Semelhança de estruturas cerebrais pode explicar conexão entre humanos e cães. Humanos e cães têm regiões cerebrais sensíveis a voz muito semelhantes.
Você pode até fazer careta ao ver pessoas conversando com seus animais de estimação como se eles fossem humanos, ou ao assistir vídeos do YouTube de cães supostamente falando inglês com seus donos, dizendo palavras como “banana” e “I love you”. E com boas razões: ainda que cães tenham a capacidade de compreender mais de 100 palavras, estudos demonstraram que o Totó não consegue falar idiomas humanos ou compreendê-los com a mesma complexidade que nós fazemos.
Mas pesquisadores descobriram que cérebros caninos e humanos processam as vocalizações e emoções de outros de maneira mais semelhante do que se pensava anteriormente. As descobertas sugerem que apesar de cães não conseguirem discutir a teoria da relatividade conosco, eles de fato parecem funcionar de uma maneira que os ajuda a compreender o que estamos sentindo ao atentar para os sons que fazemos.
Para comparar cérebros ativos de humanos e cães, o pesquisador de pós-doutorado Attila Andics e sua equipe do Grupo de Pesquisa de Etologia Comparativa MTA-ELTE, na Hungria, treinou 11 cães para ficarem parados em um aparelho de ressonância magnética funcional durante vários intervalos de seis minutos para que pesquisadores pudessem conduzir o mesmo experimento tanto em participantes humanos quanto caninos.
Os dois grupos ouviram quase 200 sons produzidos por cães e por humanos – de lamentos e choros, a risadas e latidos alegres – enquanto a equipe observava sua atividade cerebral.
O estudo resultante, publicado em 20 de fevereiro na Current Biology, revela que cérebros caninos têm regiões sensíveis a voz, e também que essas áreas neurológicas se parecem com as humanas.
Localizadas em regiões semelhantes nas duas espécies, elas processam vozes e emoções de outros indivíduos de maneira parecida. Os dois grupos responderam com maior atividade neural quando ouviram vozes refletindo emoções positivas, como risadas;no caso de sons negativos, incluindo choro ou lamento, a atividade neural foi menor.
Mas os dois grupos respondem de maneira mais intensa a sons produzidos por sua própria espécie. “Cães e humanos se encontram em um ambiente social muito parecido, mas antes nós não sabíamos o quanto os mecanismos cerebrais eram semelhantes para processar essas informações sociais”, declara Andics.
Essas semelhanças marcantes ajudam a esclarecer a linha do tempo e os estágios da história evolutiva dos mamíferos.
Até agora, pesquisadores tinham identificado regiões cerebrais sensíveis a voz apenas em humanos e em macacos – nosso último ancestral comum com essa espécie viveu há 30 milhões de anos. O último ancestral comum de humanos e cães – um mamífero carnívoro com o cérebro do tamanho de um ovo – existiu há cerca de 100 milhões de anos.
A descoberta canina, portanto, sugere que as regiões cerebrais sensíveis a voz das duas espécies evoluíram por volta dessa época, ou ainda antes. Outros mamíferos do mesmo ramo evolutivo dos cães e seres humanos que também descendem desse último ancestral mútuo, provavelmente também compartilham essas mesmas regiões cerebrais.
Mas donos de cães podem estar mais interessados no que esse estudo diz sobre nosso relacionamento especial com esses animais.
Humanos domesticaram cães entre 18 e 32 mil anos atrás, e desde então eles se tornam os melhores amigos da humanidade, parceiros de caçada, guardas, e até acessórios. Andics acredita que a sensibilidade cerebral a vozes e emoções pode ser parte de nossa conexão única. “Essa semelhança ajuda a explicar o que torna a comunicação verbal entre cães e humanos tão bem-sucedida”, observa ele. “É por isso que cães conseguem se conectar aos sentimentos de seus donos tão bem”.
Parece que pessoas que conversam com seus poodles ou golden retrievers não são tão bobas, afinal.
Fonte: Scientific American
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